A Queima do Alho
O Churrasco na Praça
A Festa do Peão
No mês de julho de 1985, precisamente uma semana antes da data comemorativa do aniversário da cidade de Turiúba, dia 19, os cidadãos turiubenses Antônio Francisco dos Santos (Toronha) – antigo tropeiro, Braz Moura Vasconcelos, Gervásio Moura Vasconcelos Filho (Gervazinho) e Belizário José dos Santos (Zé Carreiro) viajam até o município de Zacarias e pedem ao fazendeiro Gelson Mino Toloy (Simino) e também aos seus filhos Fernando e Eugênio, o empréstimo de uma tropa de burros para compor uma comitiva de peões boiadeiros com o objetivo de enriquecer as festividades municipais de Turiúba. Pedido aceito, o fazendeiro manda formar uma tropa com dez animais, composta de toda tralha e bruaca (saco, mala ou bolsa de couro cru para transporte de objetos, mercadorias e mantimentos) e os equipamentos de montaria dos peões.
De regresso a Turiúba, já ao anoitecer, a comitiva deixa a tropa na chácara do Sr. João Gonçalves dos Santos (João Belizário) – saída para a cidade de Buritama -, para o pouso até o dia de início das festividades. Feito isso, começam a trocar ideias para viabilizar a participação da comitiva no desfile que aconteceria na rua principal da cidade. Tudo combinado surge a ideia de fazer também uma “queima do alho” na Praça da Matriz. Depois de várias sugestões de como realizar o feito partem para a concretização através de distribuição de tarefas para cada um dos idealizadores.
No último dia de festividades (domingo), dentro de um cercado de corda, na Praça da Matriz, em frente da caixa d’água da Sabesp, o arroz com paçoca de carne seca e um costelão assado de aproximadamente uma arroba (15 quilos) começa a ser servido. Nasceu aí o nosso famoso “churrasco na praça”. Os primeiros cidadãos turiubenses convidados a provar desse delicioso prato feito pelos tropeiros foram os senhores João Caíres da Silva e Gervázio Moura de Vasconcelos (Gervazão). Vale ressaltar que todas as pessoas que passavam pelo local eram convidadas a servir de uma generosa porção da paçoca com costela.
Naquela época, o prefeito do município de Turiúba era o Sr. Osvaldo Pereira Bonfim, o Quiva, que exerceu seu mandato no período de 1983 a 1988. O presidente da Câmara dos Vereadores era o Sr. Gervásio Moura de Vasconcelos, o Gervazão, que exerceu a presidência no período de 1º de janeiro de 1985 a 31 de dezembro de 1986.
É bom relembrar ainda que, durante os quatro dias da semana de festividades, o nosso famoso e saudoso turiubense Valdemar Rui dos Santos, o “Asa Branca”, ainda no início de sua carreira de locutor de rodeio, começa a fazer toda a propaganda da “Companhia de Rodeio JO” que teria sua apresentação durante a 2ª Festa do Peão Boiadeiro de Turiúba. Na divulgação do evento, o locutor comentava sobre a apresentação do campeão do Barretão na festa que aconteceria à noite. A expectativa era grande. Sem ninguém saber, estava sendo preparada uma surpresa muito engraçada e interessante.
No estádio de futebol de Turiúba, à noite, o antigo tropeiro Antônio Francisco do Santos, o nosso querido e saudoso Toronha, foi apresentado como o famoso campeão da festa de Barretos e faz a tão esperada montaria no burro que tinha o apelido de “Sabonete”. São segundos de apresentação, mas que causa muitas gargalhadas e aplausos do público que compareceu ao evento. Após a apresentação, o peão foi muito cumprimentado pela ousadia e coragem em abrilhantar de forma tão pitoresca as festividades do município. A ele rendemos reconhecimento pelo orgulho e amor que tem pela sua terra.
No dia 21 de julho de 1985 durante o desfile comemorativo da cidade, todos os idealizadores do projeto para desfile da tropa e mais o Sr. Sebastião Divino de Souza (Tião Fubá) – o berranteiro da comitiva -, mostram a beleza da tropa e o orgulho do trabalho realizado. Vale relembrar ainda que na preparação do desfile da tropa, o peão Braz Moura Vasconcelos ao montar no burro cargueiro apelidado de “buteco”, de propriedade do Sr. Joaquim Botelho, é derrubado e causa grande alvoroço na plateia que se preparava para assistir o desfile.
No ano seguinte (1986), começam a aparecer outros peões para desfilar com charretes, carrinhos, carroças, carroções, boiadas e tropas, além dos tradicionais tratores e caminhões enfeitados com temas rurais. Os tropeiros dão continuidade à deliciosa “queima do alho” e outras pessoas começam a ocupar pequenos espaços, em frente de suas residências, com churrasqueiras, fogo de chão e carnes temperadas ao gosto da sua região de origem para a confraternização com seus vizinhos, amigos e visitantes.
O churrasco na praça iniciado com a “queima do alho” no ano de 1985, com os pioneiros Toronha, Gervazinho, Braz e Zé Carreiro, passam a fazer parte dos festejos comemorativos da emancipação político-administrativa do município. Era um momento muito agradável, fraterno e belíssimo de confraternização entre todos os amigos da nossa querida Turiúba. Nesses dias de festas, alguns se deslocavam com suas famílias de outras cidades e os filhos da terra que passaram a morar em outras regiões do Brasil também aproveitavam a ocasião muito especial para rever os parentes e amigos e com eles confraternizar.
O “churrasco na praça” era um evento encarado com muita seriedade e responsabilidade tanto pela população como pelo governo municipal e por isso nunca houve acidentes ou desentendimentos de maior gravidade entre as pessoas que compareciam a festa. A polícia militar e a polícia civil marcavam presença firme e educada durante todos os dias que eram dedicados às festividades municipais e à festa do peão, patrulhavam as ruas, a entrada e a saída da cidade para evitar qualquer forma de contravenção, crimes e excessos. A beleza do evento, o espírito alegre, a música e as danças em todas as barracas que ficavam nas frentes das casas de famílias e em volta da Praça da Matriz era o ponto alto da confraternização, da cidadania, da democracia e da felicidade de todos os munícipes.
No domingo, dia do desfile na cidade e do “churrasco na praça”, a cidade ficava muito linda e cheia de cores, principalmente com a presença de muita gente, vinda de todos os lugares. Para se ter uma ideia da riqueza dessa confraternização e do desejo de participação de pessoas, um mês antes da festa do município, a frente da Praça da Matriz já era demarcada por cada um dos participantes, tanto da cidade quanto de outros estados da Federação e do Distrito Federal.
O clima reinante em Turiúba, condiz com o carinhoso nome dado pelos seus habitantes de “cidade facho de luz”. Hoje, a Câmara de Vereadores e a Prefeitura Municipal tendo a frente competentes legisladores e gestores administrativos tudo fazem para resgatar e preservar a história da cidade, principalmente a tradicional festa do peão. O churrasco na Praça ou “Queima do Alho” na Praça da Matriz continua suspensa por ordem judicial. Belíssimos eventos tão aguardados por todos os cidadãos que vivem no município e também de outros cantos do país. Viva Turiúba!
Turiúba/SP. 19 de julho de 2025
*Fontes consultadas: Antônio Francisco dos Santos (Toronha), Gilberto Ferreira Caires(Beto Caires), Braz Moura Vasconcelos e Gervázio Moura Vasconcelos
Escritor Casimiro Neto
Professor, Historiador, Pesquisador, Produtor Artístico e Cultural, Especialista em Curadoria de Obras de Arte e de Exposições Históricas, Artísticas e Culturais. Cientista Político, Poeta, Pedagogo com Livre Docência em Biologia Educacional, Metodologia do Ensino, Didática, Filosofia, Sociologia, História e Psicologia da Educação. Especialista e Professor de Pós Graduação em História do Parlamento Brasileiro, História Constitucional e Infraconstitucional e História da Arte. Chefe da Seção de Documentação Parlamentar, Diretor Substituto da Coordenação de Publicações da Câmara dos Deputados, Diretor do Museu e do Centro Cultural da Câmara dos Deputados, Servidor Público Federal, Diretor de Ensino e Assessor da Direção Regional do Sesc-DF.