Silêncio…

Um estranho ronda minha casa nestes dias de trevas

Um dia vieram e levaram meu vizinho que
que participou dos atos democráticos do oito de janeiro
como não participei, não fiz nada e só observei
No dia seguinte vieram e levaram um vendedor ambulante
que passava pela minha rua
como não sou vendedor, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu outro vizinho que era evangélico
como não sou evangélico, observei da janela, mas ainda não me causou espanto
No outro dia vieram e levaram meu vizinho que era conservador e patriota
Como também sou conservador e patriota,
achei estranho, me incomodei, mas não fiz nada.
No quarto dia, vieram e me levaram junto com poetas, loucos,

escritores, outros patriotas e conservadores e alguns jornalistas
Já não havia mais ninguém para saber o que estava acontecendo…
Já não havia mais ninguém para reclamar…
Já não havia mais ninguém para denunciar…
Já era domingo e a solidão manchou as ruas
e as casas escuras e sombrias da minha cidade.
Silêncio, frio, chuva e neblina escurecendo nossos olhos.
Uma capa preta e esvoaçante cobriu de silêncio o meu bairro
e todos os bairros, cidades e campos do nosso país. 

Livre adapatação para os dias de hoje no Brasil
Texto original do pastor luterano alemão Martin Niemöller.
Terras da Alemanha, nazismo em ascensão, 1933.
Poeta Casimiro Neto. Poesia ao acaso, em tempos de opressão.
Casa do Poeta/Paraíso Encantado/Turiúba/SP. 07 de setembro de 2023

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