(O entardecer se faz presente)
Ao longe prédios, gaiolas humanas,
Na Esplanada, Congresso Nacional, Supremo Palácio e o Planalto
A Bandeira maior, altiva, na Praça
dos Três Poderes, símbolo, orgulho, brasileiros
Algumas luzes se acendem
Luminosos nas fachadas,
Carros nos Eixos Norte e Monumental
Destinos, muitos incertos, dispersos
Chuva passada, tempo frio
Aconchego, música e solidão
Televisão global, nomeia ou derruba presidentes,
Lavagem cerebral, Orwell, 1984
Pipas no alto, futebol na grama batida
Filhos na festa vizinha, aniversário, sábado
Acerto atrasado, horário de verão
Assembléia Nacional Constituinte, outubro final
Tudo volta ao normal nesse país corrupto
Apesar das belas palavras, decepção
Representantes que não queremos
Trem da alegria, voos semanais, aviões da Força Aérea
Descaso, particulares interesses
Composição política, cargos, nomeações, parentes,
Lucros, multinacionais, exterior, contas numeradas
Malas recheadas, Inflação, juros altos, agiotagem
Vôos noturno, ouro, fronteira
Riqueza tupininquim, pobreza, miséria
Realinhamento politico, sorrisos, brindes
Viajens além-mar, convidados politicos
Promessas vã, retirantes, prostitutas
Mendigos, rodoviária, viadutos
Miséria, invasões, chão batido
Esgoto a céu aberto, violência, armas na cintura
Latas na bica, água contaminada, crianças, mulheres, homens
descalços, roupas rasgadas, sofrimento no olhar
Côncavo e Cônvexo, esperança no eleito
Que sonhos em vão…
Já escureceu, pobre Brasil!
E o amanhã???
Pão e circo…
Novamente?
Poeta Casimiro Neto. Brasília-DF. Dois meses depois da
Assembléia Nacional Constituinte. 04 de dezembro de 1988