Há certos dias
em que sinto vontade de ficar a janela
olhando o céu, as nuvens, a lua
o amanhecer ou entardecer
dos dias de verão ou inverno
As pessoas passeando na rua
As mulheres conversando em seus portões e calçadas
Os meninos jogando bola, pião ou bolinhas de gude
A algazarra dos alunos no pátio do colégio
A calma e a beleza da nossa pequena cidade
Na cozinha, o cheiro bom dos temperos de minha mãe
no preparo do nosso almoço, com tanto carinho
No quintal, mangas, laranjas, limões, mixiricas, hortaliças e verduras
No jardim, as flores em borbotões, de todas as cores e nuances
Meu pai José chegando cansado da roça e tirando o arreio do cavalo
Perguntando de cada um e contando como foi seu dia para todos nós
Olho para minha mãe e vejo um tímido sorriso de alívio
ao ver todos os seus filhos juntos naquele modesto e aconchegante
mundo que faz parte dos seus dias…
Há nisso tudo uma tranquilidade muito grande,
muito abençoada, que absurdamente sinto vontade
de descrever a cena.
Não posso perder esse momento, cheio de magia.
Um tiquinho de tempo de nossa existência
que derrama emoções e enobrece a alma
de quem aprende com tudo isso
Talvez eu seja tolo, talvez…
Mas a culpa não é minha
A culpa é desse dia ou desse menino de alma calada
andando sempre a procura do que possa ser o infinito
e sempre perguntando o que existe depois dele…
Sem querer respostas me abrigo
nas palavras que deixo escapar pelo papel…
Poeta Casimiro Neto. Tempo de observar e fazer muitas interrogações.
Gastão Vidigal/SP. 30 de junho de 1968